O café faz parte da rotina de milhões de brasileiros. Seja no café da manhã, no intervalo do trabalho ou como acompanhamento de um doce, ele está sempre presente. Mas o que poucos sabem é que o sabor final de uma xícara depende de vários fatores: o tipo de grão, o nível de torra, a moagem e, principalmente, o método de extração. Com a valorização do café especial e o crescimento das cafeterias artesanais, o café filtrado manual ganhou espaço na casa dos brasileiros. E com algumas orientações básicas, qualquer pessoa pode preparar uma bebida com qualidade de cafeteria.
Este guia apresenta os principais tipos de grãos, explica como a torra e a moagem influenciam no sabor e detalha, passo a passo, como preparar café no método coado com excelência. Tudo isso contextualizado à realidade brasileira, com exemplos práticos, dicas de equipamentos acessíveis e sugestões de marcas disponíveis no país.
Arábica ou Robusta: qual grão combina com o seu paladar?
Aproximadamente 70% do café cultivado no mundo é do tipo Arábica. Plantado em altitudes elevadas, ele apresenta menor teor de cafeína, maior acidez e notas sensoriais mais complexas. Já o Robusta — predominante em regiões mais quentes e baixas — possui mais cafeína, corpo mais intenso e sabor mais amargo.
No Brasil, marcas de café especial como Orfeu, Coffee++ ou Fazenda Um trabalham com grãos 100% arábica, focando em sabores frutados, florais ou achocolatados. Por outro lado, marcas de grande porte e preço acessível costumam misturar robusta (também conhecido como conilon) para reduzir custos e ampliar o corpo da bebida.
Nível de torra: o que muda na sua xícara
O nível de torra influencia diretamente no perfil sensorial do café. A torra clara preserva mais os compostos aromáticos naturais, enquanto a torra escura desenvolve amargor e notas tostadas. Veja as principais categorias:
- Torra clara: maior acidez, notas cítricas e florais
- Torra média: equilíbrio entre doçura, corpo e acidez
- Torra escura: amargor acentuado, notas de chocolate, caramelo ou defumado
No preparo com coador, é recomendável utilizar cafés de torra média, que garantem equilíbrio e boa solubilidade. Muitas marcas brasileiras indicam a data de torra na embalagem — um indicador de frescor importante. Espere pelo menos 48 horas após a torra para preparar o café, garantindo tempo de desgaseificação.
Moagem: a diferença entre um bom café e um desastre
A moagem do grão deve ser ajustada conforme o método de preparo. Para o café coado, o ideal é uma moagem média a média-grossa, com textura semelhante ao açúcar cristal. Moagens muito finas geram amargor por superextração, enquanto moagens muito grossas podem resultar em café fraco e sem corpo.
Exemplos práticos: para um coador V60, a moagem pode ser um pouco mais fina que para uma prensa francesa. No Brasil, há opções acessíveis de moedores manuais (como Hario, Timemore) e elétricos (como Cadence ou Hamilton Beach), disponíveis em lojas como Amazon Brasil, Mercado Livre e Magazine Luiza.
Temperatura da água e proporção ideal
A água deve estar entre 90°C e 96°C. Se você não tiver termômetro, ferva a água e aguarde cerca de 30 segundos antes de usar. Quanto à proporção, a regra básica é 1:15 a 1:17 — ou seja, 20g de café para 300 a 340ml de água.
O uso de balança digital e cronômetro é altamente recomendado. Marcas como Acaia, Timemore e Ooni oferecem modelos com excelente precisão. Para controlar o fluxo da água, o ideal é uma chaleira de pescoço fino, como as da Bialetti ou Brewista, muito populares entre os entusiastas brasileiros.
Qual coador usar? Hario, Kalita ou Clever
O tipo de coador impacta na intensidade, corpo e clareza do café:
- Hario V60: favorece cafés limpos e com acidez pronunciada
- Kalita Wave: proporciona extração mais uniforme, com corpo mais equilibrado
- Clever Dripper: une imersão e percolação, resultando em bebida encorpada e doce
No Brasil, você encontra esses equipamentos em sites especializados como Um Coffee Co, Mercado do Café, ou ainda em marketplaces como Amazon e Shopee.
Passo a passo para preparar café coado
- Passo 1: Enxágue o filtro de papel com água quente e descarte a água
- Passo 2: Coloque 20g de café moído no filtro
- Passo 3: Despeje 30ml de água para fazer a pré-infusão (blooming) e aguarde 30 segundos
- Passo 4: Adicione o restante da água (270 a 310ml) em movimentos circulares e de forma gradual
- Passo 5: Tempo total de extração: entre 2 minutos e 30 segundos a 3 minutos
Ao final, consuma imediatamente ou armazene em uma garrafa térmica pré-aquecida para preservar o sabor.
Erros comuns e como evitá-los
Entre os erros mais frequentes estão: usar água muito quente, pular a pré-infusão e usar moagem inadequada. Isso resulta em sabores amargos ou desequilibrados. Manter um diário de preparo ajuda a identificar ajustes e alcançar consistência.
Segundo Hugo Wolff, especialista da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), “um bom café depende mais da repetição precisa do que de equipamentos caros”.
Equipamentos recomendados para começar em casa
- Coador: Hario V60, Kalita Wave ou Clever (R$ 80 a R$ 200)
- Filtros de papel: compatíveis com cada coador (R$ 10 a R$ 30 por 100 unidades)
- Balança digital: com cronômetro (R$ 70 a R$ 200)
- Chaleira de pescoço fino: com ou sem controle de temperatura (R$ 150 a R$ 350)
- Moedor de café: manual ou elétrico com regulagem de moagem (R$ 100 a R$ 500)
Todos esses itens estão disponíveis no varejo nacional com ampla variedade de preços e marcas.
Café coado ou espresso? Entenda a diferença
O café coado é extraído por gravidade, enquanto o espresso utiliza alta pressão (geralmente 9 bars). O espresso é curto e intenso; o coado é mais suave, volumoso e permite maior percepção de nuances sensoriais.
Para o consumo diário, o café coado é mais prático, econômico e exige menos manutenção do que uma máquina de espresso, sendo ideal para quem busca sabor com simplicidade.
Café é técnica, mas também hábito e prazer
Fazer um bom café exige prática e atenção aos detalhes. Repetir um método com precisão é o que leva à excelência. A cada preparo, você pode ajustar variáveis como moagem, temperatura e tempo para melhorar sua bebida.
Aplicativos como Beanconqueror e BrewTimer têm ganhado espaço entre os brasileiros, pois permitem registrar receitas, comparar resultados e evoluir tecnicamente.
Conclusão: o melhor café é o que você domina
Aprender a preparar café filtrado em casa transforma a rotina e amplia seu repertório sensorial. O segredo não está apenas nos equipamentos, mas na atenção ao processo e na consistência da prática.
O melhor café é aquele que você aprecia e consegue reproduzir com confiança. Teste, ajuste, descubra — e desfrute o prazer de fazer um café especial com as próprias mãos.