Seu cão não obedece ao chamado? Treine o retorno com estas 4 etapas práticas

Se o seu cão não volta quando você o chama durante os passeios, saiba que essa é uma dificuldade bastante comum entre tutores brasileiros. Especialmente em espaços públicos como parques, praias ou áreas abertas sem guia, essa situação pode gerar estresse e riscos reais. Mas será que apenas cães de certas raças conseguem aprender o “recall”? A resposta é: definitivamente não.

Todos os cães podem aprender a voltar ao serem chamados. A chave está em um processo estruturado, positivo e adaptado à realidade do tutor e do ambiente. Este guia apresenta um programa em 4 etapas para treinar o chamado de retorno, com técnicas baseadas em reforço positivo, adaptadas à rotina no Brasil.

Chamado não é luxo, é segurança para seu pet

Ensinar o cão a voltar ao ser chamado é mais do que um truque de obediência: é uma medida vital de segurança. Um cachorro que escapa e corre para uma rua movimentada, ou que se aproxima de outro animal agressivo, pode se colocar em risco ou causar acidentes.

Segundo dados recentes da ONG Ampara Animal, estima-se que mais de 40 mil cães se perdem por ano no Brasil, e muitos desses casos acontecem em passeios onde o animal não tinha controle nem resposta ao chamado. Ter um bom “recall” é responsabilidade do tutor e deve ser parte essencial da convivência.

Etapa 1: Vincule o nome a algo positivo

Um erro comum é usar o nome do cão em situações negativas, como broncas ou ordens rígidas. Isso faz com que ele associe o som a experiências ruins. O objetivo desta etapa é fazer o cão entender que ouvir seu nome é o início de algo bom.

  • Escolha um ambiente calmo, como a sala de casa, e mantenha uma distância de cerca de 2 metros
  • Chame o nome dele em tom alegre
  • Quando ele olhar ou se aproximar, ofereça uma recompensa valiosa imediatamente (ex: pedaço de frango cozido, petisco de alta palatabilidade)
  • Repita várias vezes ao dia, em sessões de 2 minutos

Não corrija se ele não vier. O objetivo inicial é criar uma associação positiva e confiável com o nome.

Etapa 2: Escolha um comando claro e mantenha consistência

Evite confundir o cão usando expressões variadas como “aqui”, “volta”, “vem logo”. Use um único comando — por exemplo, “vem” — e seja consistente.

  • Combine o comando verbal com uma linguagem corporal clara (como se abaixar ou abrir os braços)
  • Recompense sempre que ele responder corretamente ao chamado

O tempo entre o retorno e a recompensa deve ser mínimo. Isso fortalece o comportamento desejado. Lembre-se: o que é recompensado se repete.

Etapa 3: Aumente a distância e insira distrações

Um bom “recall” precisa funcionar mesmo com distrações. Isso inclui sons, cheiros, outros cães ou pessoas. Nessa etapa, o treino avança para situações mais reais.

  • Comece com 3 metros e aumente gradualmente para 5, 10 e 15 metros
  • Insira pequenos estímulos, como barulho de TV ou brinquedos por perto
  • Treine em áreas externas seguras, como quintais ou praças cercadas

Se ele não responder, não repreenda. Reduza a dificuldade e repita o treino. O foco é criar uma sequência de acertos para reforçar a aprendizagem.

Etapa 4: Pratique em ambientes reais com segurança

Depois de consolidado o treino básico, é hora de aplicar na vida real. Utilize uma guia longa (10 a 15 metros, disponível a partir de R$ 60 em pet shops) para segurança durante passeios em parques ou trilhas.

Exemplo prático:

  • Deixe o cão explorar com a guia longa
  • Chame com entusiasmo usando o comando escolhido
  • Quando ele voltar, ofereça uma recompensa excepcional: petisco premium, brinquedo favorito ou sessão de carinho especial

Uma taxa de sucesso de 60 a 70% em ambientes externos já é excelente. Com o tempo, isso se transformará em hábito confiável.

3 erros comuns que atrapalham o recall

  1. Variar o comando verbal e confundir o cão
  2. Recompensas fracas ou ausentes que reduzem o engajamento
  3. Broncas após o retorno, criando uma associação negativa com o chamado

Nunca corrija ou puna o cão após ele retornar. Mesmo que ele tenha demorado, valorize o comportamento desejado. A disciplina vem com consistência, não com punição.

Meu cão é idoso ou resgatado. Ainda dá tempo?

Sim! Idade ou histórico difícil não são obstáculos para treinar o recall. Muitos cães adotados em abrigos, com anos sem adestramento, aprenderam a responder ao chamado com esse protocolo.

Um exemplo: um SRD de 10 anos, resgatado no interior de São Paulo, alcançou 80% de resposta ao chamado após 4 semanas de treino diário com guia longa e reforço positivo. Não é sobre a idade, é sobre a estratégia.

Ferramentas e apps úteis no Brasil

  • Guias longas de 10–15 metros: vendidas a partir de R$ 60 em lojas como Cobasi, Petz ou Amazon
  • Clickers de treino: ideais para marcar o momento certo da resposta (a partir de R$ 20)
  • Aplicativos como Dogo, Petz App ou Adestramento Positivo BR: oferecem planos em português e suporte virtual

Esses recursos ajudam a manter o ritmo do treinamento, mesmo para quem nunca treinou um cão antes.

Dicas para manter o recall eficiente no longo prazo

  • Recompensas variadas: alterne entre petiscos, brinquedos e atenção
  • Associe o chamado a brincadeiras: uma vez que ele volte, brinque com a bolinha ou dê uma caminhada extra
  • Use os erros como treino: sem punição, repita com paciência

Treinar o recall é um processo contínuo. É como cultivar confiança. Com prática regular, o comportamento se mantém forte e automático.

Conclusão: O problema não está no cão, mas no método

Quando o cachorro não volta, o erro quase sempre está na comunicação ou no processo de ensino, não no animal. O plano de 4 etapas que apresentamos aqui é simples, prático e acessível para qualquer tutor no Brasil.

Mude a pergunta: ao invés de “por que ele não volta?”, pense “como posso tornar o retorno algo irresistível para ele?”. Esse é o ponto de virada.