Meu filho é apenas agitado ou está apresentando sinais iniciais de TDAH?

Seu filho se distrai facilmente, age por impulso ou parece ter energia de sobra? Embora seja normal que crianças pequenas sejam muito ativas, comportamentos repetitivos que interferem na rotina podem indicar sinais precoces de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Este guia prático foi desenvolvido para ajudar pais e responsáveis a identificarem comportamentos que merecem atenção e saber quando buscar ajuda especializada.

O que é o TDAH?

O TDAH é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais frequentes na infância. Segundo dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), cerca de 5% das crianças no Brasil apresentam sintomas compatíveis com o diagnóstico. Os principais eixos do transtorno são: desatenção, impulsividade e hiperatividade.

Não se trata de falta de limites ou problemas na educação. O TDAH tem origem neurológica, com alterações no funcionamento cerebral. O diagnóstico precoce permite evitar dificuldades escolares, problemas de socialização e impactos negativos na autoestima da criança.

Por que a detecção precoce é tão importante?

Quando não identificado e tratado, o TDAH pode persistir na adolescência e na fase adulta. Estudos apontam que mais de 60% das crianças com TDAH continuam apresentando sintomas significativos ao longo da vida. A intervenção precoce pode:

  • Melhorar o rendimento escolar e a capacidade de concentração
  • Promover o desenvolvimento emocional
  • Reduzir conflitos com colegas e familiares
  • Diminuir a necessidade de uso prolongado de medicamentos

Como usar esta lista de verificação

Esta lista não tem finalidade diagnóstica, mas auxilia os pais na observação sistemática de comportamentos. Os itens estão divididos em três categorias:

  • Desatenção
  • Hiperatividade e impulsividade
  • Dificuldades emocionais e sociais

Avalie se os comportamentos acontecem com frequência, às vezes ou nunca, por pelo menos seis meses, em diferentes contextos como casa, escola e atividades sociais.

Sinais de desatenção

  • Distrai-se com facilidade, mesmo durante conversas
  • Parece não ouvir quando é chamado
  • Não conclui tarefas escolares ou brincadeiras
  • Tem dificuldade para se organizar (perde objetos, esquece materiais)
  • Reage a estímulos mínimos, como barulhos ou movimentos

Comportamentos hiperativos e impulsivos

  • Está sempre em movimento, levanta-se sem motivo
  • Fala demais e interrompe os outros com frequência
  • Tem dificuldade para esperar sua vez
  • Age sem pensar, às vezes de forma arriscada
  • Interfere em conversas ou brincadeiras alheias

Tais comportamentos tendem a se evidenciar em ambientes com regras e estrutura, como a sala de aula.

Problemas emocionais e sociais

  • Reage de forma explosiva a frustrações
  • Tem dificuldade para fazer ou manter amizades
  • Desiste facilmente de atividades desafiadoras
  • É muito sensível a críticas ou correções
  • Expressa baixa autoestima ou fala negativamente sobre si

Esses sintomas podem estar associados a transtornos de ansiedade ou quadros depressivos.

Exemplo prático: Lucas, 7 anos

Lucas estuda em uma escola pública de Belo Horizonte. Desde pequeno, era descrito como muito comunicativo e agitado. No entanto, sua professora relatou que ele não acompanha as instruções em sala, interrompe colegas com frequência e não finaliza as tarefas. Ao perceber dificuldades semelhantes em casa e quedas no desempenho escolar, seus pais procuraram um neurologista infantil. O diagnóstico de TDAH foi confirmado. Com apoio multidisciplinar — incluindo terapia cognitivo-comportamental e adaptações pedagógicas — Lucas apresentou evolução significativa em poucos meses.

Quando procurar ajuda profissional?

Recomenda-se buscar orientação especializada se:

  • A criança apresenta vários dos comportamentos listados com frequência
  • Esses padrões interferem na vida familiar, escolar ou social
  • Estratégias educativas comuns não são eficazes
  • Professores ou cuidadores demonstram preocupação

O que pode ser feito em casa: primeiros passos

  • Estabeleça rotinas previsíveis: use quadros de atividades e horários fixos
  • Divida as tarefas em etapas curtas: 15 a 20 minutos com pequenas pausas
  • Estimule o reconhecimento emocional: faça perguntas como “como você está se sentindo agora?”
  • Crie um sistema de recompensas: adesivos, pontos ou tempo extra de brincadeira

A consistência na aplicação dessas estratégias favorece a autorregulação e o desenvolvimento da autonomia.

O papel da família: mais acolhimento, menos críticas

Crianças com TDAH precisam de compreensão. Frases como “você nunca se comporta” devem ser substituídas por “gostei de como você tentou se concentrar hoje”. O reforço positivo fortalece a autoestima. Já as críticas constantes podem intensificar os sintomas.

Onde buscar ajuda no Brasil

O SUS oferece atendimento inicial por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), com encaminhamento para Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), quando necessário. Há também ONGs como a ABDA e a Associação Brasileira de Psicopedagogia que fornecem orientações e materiais educativos. Ferramentas como o aplicativo Conexa Saúde facilitam o acesso a especialistas de forma online.

Conclusão: entender é o primeiro passo

Reconhecer os sinais do TDAH desde cedo permite oferecer apoio adequado e fortalecer o potencial da criança. Esta lista é uma ferramenta de observação e não substitui avaliação clínica. Com o suporte certo, toda criança pode crescer de forma equilibrada, confiante e feliz.