Adotar um cão pela primeira vez é um momento marcante na vida: traz alegria, mas também exige responsabilidade. Muitos adotantes se deixam levar pela fofura de um filhote sem considerar possíveis problemas de saúde ou comportamento. No entanto, um cão não é um brinquedo, e sim um novo membro da família. Este guia foi elaborado para ajudá-lo a revisar os pontos essenciais antes de tomar a decisão final.
Conhecer as características da raça: o primeiro passo para uma boa escolha
Pesquisar é essencial, não opcional
Cada raça canina possui particularidades físicas e comportamentais. Por exemplo, buldogues franceses sofrem frequentemente de problemas respiratórios, border collies precisam de muita estimulação mental, enquanto raças nórdicas são mais independentes. Segundo dados da ONG Adote Um Focinho, cerca de 20% das devoluções ocorrem por incompatibilidade entre o perfil do tutor e o comportamento do animal.
- Investigue a expectativa de vida, doenças genéticas comuns e o nível de energia da raça
- Pergunte sobre o comportamento dos pais do animal ao abrigo ou criador
- Considere o custo de manutenção (banho e tosa, ração especial) de raças de pelo longo como o shih-tzu
Verificar o estado geral de saúde do cão
Aparência não é tudo
Antes da adoção, é essencial realizar um check-up veterinário. Mesmo que o animal pareça saudável, doenças como giardíase, sarna ou disfunções digestivas podem passar despercebidas.
- Olhos vermelhos ou com secreção: pode ser conjuntivite
- Odor forte nas orelhas: otite ou ácaros
- Abdômen inchado: indício de verminoses ou inflamação
- Respiração ofegante: possível problema cardíaco ou pulmonar
▶ No Brasil, abrigos como o Projeto CEL realizam avaliação clínica básica. Consultas completas em clínicas particulares custam entre R$ 100 e R$ 200 dependendo da cidade.
Vacinação: situação atual e reforços obrigatórios
A prevenção é dever do tutor responsável
Cães com mais de seis semanas devem estar com a vacinação inicial em dia. Isso os protege de doenças graves como cinomose, parvovirose e raiva.
- Vacina múltipla (V8 ou V10): 3 doses a partir da 6ª semana de vida
- Antirrábica: obrigatória por lei a partir dos 3 meses de idade
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2023 a cobertura vacinal contra a raiva no Brasil ficou em torno de 80%, com índices mais baixos nas regiões Norte e Centro-Oeste.
Socialização e reações ao ambiente
Um cão bem socializado se adapta melhor
Cães que foram expostos a diferentes estímulos entre 3 e 12 semanas são mais equilibrados. A falta de socialização pode causar medos, agressividade ou dependência excessiva.
- Ele se aproxima de estranhos ou se retrai?
- Reage mal a sons como buzinas ou aspirador de pó?
- Demonstra possessividade com comida ou brinquedos?
Exemplo: uma família em Belo Horizonte adotou um vira-lata de 11 meses que latia intensamente para crianças. Com dois meses de adestramento positivo, houve melhora significativa. A observação prévia teria antecipado essa necessidade.
Higiene e adaptação ao lar
Limpeza é essencial para a convivência
Um cão que não tem hábitos higiênicos pode causar transtornos no lar. Conhecer seus costumes antes da adoção faz toda a diferença.
- Usa tapete higiênico ou jornal?
- Está acostumado apenas a fazer as necessidades na rua?
- Consegue mudar de local se for orientado?
Alguns abrigos brasileiros oferecem período de lares temporários para avaliar comportamento antes da adoção definitiva.
Alimentação e possíveis alergias
A forma como come revela muito sobre ele
Observar o apetite do animal e suas reações à comida ajuda a identificar possíveis problemas de saúde.
- Come demais ou rejeita ração?
- Rosna ou protege o pote de comida?
- Apresenta coceiras, vômitos ou diarreia após a refeição?
▶ Rações hipoalergênicas no Brasil custam entre R$ 90 e R$ 130 por 2kg. Em casos crônicos, o custo mensal pode passar de R$ 300.
Obediência básica e resposta a comandos
Um indicativo da capacidade de aprendizagem
Cães que respondem a comandos simples como “senta”, “fica” ou “vem” demonstram treinamento prévio ou facilidade de adestramento.
- Atende quando é chamado pelo nome?
- Reage a gestos e ordens verbais?
- Ignora constantemente os comandos?
Para tutores iniciantes, o ideal é começar com cães que já possuem noções básicas de obediência.
Estabilidade emocional e manejo do estresse
Alguns cães são mais sensíveis
Mudanças no ambiente, ruídos e toques físicos podem causar estresse. Observar suas reações ajuda a entender seu perfil emocional.
- Balança o rabo ou evita contato visual no primeiro encontro?
- Relaxa ou fica tenso ao ser acariciado?
- Quanto tempo demora para se acalmar após um estímulo negativo?
Segundo estudo da Universidade de São Paulo (USP), cães que apresentam altos níveis de estresse no momento da adoção têm até 2,8 vezes mais chance de desenvolver problemas comportamentais nos dois primeiros meses.
Histórico médico e tratamentos anteriores
Informação vital para o futuro
Saber o histórico de saúde do cão ajuda a planejar cuidados contínuos e evitar imprevistos.
- Quais doenças ele teve e como foram tratadas?
- Existe acompanhamento atual ou risco de reincidência?
- Quais custos veterinários devem ser previstos?
Alguns abrigos, como a ONG Cão Sem Dono, fornecem prontuários completos no momento da adoção.
Comprometimento a longo prazo
A adoção exige responsabilidade duradoura
Cães vivem entre 12 e 15 anos, exigem cuidados diários e impactam na rotina da casa.
- Você pode cuidar dele em caso de mudança, filhos ou viagens?
- Tem rede de apoio para emergências?
Prefeituras como as de Curitiba e Salvador oferecem entrevistas prévias e orientações para adoção consciente.
Conclusão
A chegada de um cão pode ser transformadora. Para que essa experiência seja positiva, é preciso preparo. Com esta lista de verificação, você estará pronto para assumir esse compromisso com consciência, afeto e responsabilidade.