Dieta cetogênica: estratégia eficaz ou armadilha silenciosa? Entenda os princípios e os efeitos colaterais da alimentação low carb e high fat

É possível emagrecer comendo gordura? A promessa e os dilemas do estilo keto

Nos últimos anos, a dieta cetogênica conquistou espaço entre brasileiros que buscam emagrecimento rápido, melhora nos níveis de energia e controle da glicemia. Com a proposta de reduzir drasticamente os carboidratos e priorizar o consumo de gorduras, esse modelo alimentar ganhou força em academias, clínicas de nutrição e nas redes sociais. No entanto, especialistas alertam que a prática sem orientação pode acarretar problemas metabólicos, sobrecarga de órgãos e desequilíbrios hormonais.

Um exemplo comum é o da Renata, 42 anos, de Campinas, que perdeu 7 kg em dois meses com a dieta keto, mas apresentou colesterol LDL elevado e alterações nos exames hepáticos. Sua nutricionista recomendou a interrupção imediata do plano. Casos como o dela mostram que os resultados da dieta cetogênica podem ser expressivos, mas exigem responsabilidade e acompanhamento.

O que é exatamente a dieta cetogênica?

Trata-se de um plano alimentar baseado na redução severa de carboidratos (menos de 50g por dia) e no aumento do consumo de gorduras boas (70 a 80% das calorias), com proteínas em níveis moderados (20 a 25%). Ao limitar os carboidratos, o corpo entra em um estado chamado cetose, onde utiliza corpos cetônicos (produzidos a partir da gordura) como principal fonte de energia, substituindo a glicose.

Cetose: o mecanismo que transforma gordura em energia

A cetose é induzida quando o organismo, sem carboidratos disponíveis, reduz os níveis de insulina e passa a utilizar a gordura corporal como fonte primária de energia. Isso promove queima de gordura eficiente, menos fome e controle glicêmico mais estável. Muitos relatam saciedade prolongada e menos compulsão alimentar.

Por que o emagrecimento é tão rápido?

Nos primeiros dias, a perda de peso é acelerada devido à eliminação de líquidos retidos com o glicogênio. Posteriormente, a queima de gordura corporal se intensifica. Um estudo recente da USP mostrou que pacientes em dieta cetogênica perderam em média 5,4 kg em oito semanas, com preservação da massa magra.

Saciedade prolongada: a vantagem que reduz o apetite

A abundância de gordura e proteína retarda o esvaziamento gástrico e contribui para uma sensação de saciedade duradoura. Segundo a Sociedade Brasileira de Nutrição Funcional, pacientes em dieta cetogênica consomem espontaneamente cerca de 20% menos calorias, mesmo sem restrição calórica obrigatória.

Dieta cetogênica e o diabetes tipo 2: há benefícios reais?

Diversas pesquisas indicam que a cetogênica pode ajudar no controle glicêmico e na sensibilidade à insulina em pessoas com pré-diabetes ou diabetes tipo 2. A Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda que esse tipo de dieta seja adotado com supervisão, principalmente quando há uso de medicamentos hipoglicemiantes.

Mais foco e energia estável: o chamado “cérebro em cetose”

Relatos frequentes incluem melhora na clareza mental e disposição durante o dia. Isso se deve ao uso dos corpos cetônicos como combustível cerebral, que proporcionam energia constante e sem oscilação glicêmica. Muitos profissionais autônomos e estudantes relatam ganhos em produtividade com esse padrão alimentar.

Dificuldade de adesão: quando a realidade brasileira entra em cena

No Brasil, onde o arroz, o feijão e o pão fazem parte da rotina alimentar, manter uma dieta cetogênica pode ser desafiador. Comer fora, participar de reuniões familiares ou adaptar receitas exige planejamento e substituições constantes. Além disso, itens como óleo de coco, farinha de amêndoa ou manteiga ghee possuem custo elevado — por exemplo, 500g de farinha de amêndoa custa cerca de R$ 40,00.

Gripe cetogênica e perda de eletrólitos: efeitos colaterais comuns

Nas primeiras semanas, é comum sentir sintomas como dor de cabeça, fraqueza, cãibras e irritabilidade. Esses efeitos fazem parte da chamada “keto flu” (ou gripe cetogênica), causada pela perda de sódio, potássio e magnésio. A recomendação é reforçar a hidratação e suplementar eletrólitos com caldos, sal rosa ou cápsulas específicas (média de R$ 30,00 a R$ 50,00 por mês).

Colesterol elevado: mito ou preocupação legítima?

Embora a dieta melhore os níveis de HDL (colesterol bom), muitos pacientes apresentam aumento no LDL. O Departamento de Nutrição da UFRJ alerta que dietas ricas em gorduras saturadas devem ser balanceadas com fontes de gorduras insaturadas, como azeite de oliva, abacate e castanhas. Exames laboratoriais periódicos são essenciais para monitoramento.

Fígado e rins: órgãos que podem ser sobrecarregados

A produção constante de corpos cetônicos exige maior trabalho do fígado e dos rins. Indivíduos com histórico de doenças hepáticas ou renais devem evitar essa dieta. Mesmo em pessoas saudáveis, recomenda-se acompanhamento laboratorial a cada 2–3 meses (exame completo de função hepática e renal: cerca de R$ 120,00 em laboratórios particulares).

Impacto hormonal nas mulheres: atenção redobrada

Mulheres com baixo percentual de gordura corporal podem apresentar alterações menstruais ou desequilíbrios hormonais com a restrição prolongada de carboidratos. Estudo da Unicamp aponta que 19% das voluntárias em dieta cetogênica relataram irregularidade no ciclo após 60 dias. A individualização é crucial nesse público.

Quem pode realmente se beneficiar da dieta cetogênica?

A dieta cetogênica pode ser eficaz para pessoas com obesidade, resistência à insulina ou síndrome metabólica. No entanto, não é indicada para crianças, gestantes, idosos ou indivíduos com transtornos alimentares. Sempre deve haver prescrição e acompanhamento por nutricionista ou médico.

Como aplicar a cetogênica com segurança e resultados reais

  • Reduzir carboidratos gradualmente para facilitar a adaptação
  • Priorizar gorduras boas: azeite, oleaginosas, abacate e peixes
  • Incluir vegetais com baixo teor de amido: couve, espinafre, abobrinha
  • Manter boa hidratação e suplementação de eletrólitos
  • Fazer exames periódicos para monitorar colesterol, fígado e rins

Conclusão: a cetogênica é uma ferramenta, não uma solução mágica

A dieta cetogênica pode oferecer resultados expressivos no controle de peso e na saúde metabólica. No entanto, não deve ser seguida como uma moda ou sem base científica. Cada organismo responde de forma distinta, e o sucesso depende da personalização, educação alimentar e acompanhamento profissional adequado. É uma estratégia potente — desde que usada com consciência.

Aviso: Este conteúdo tem finalidade informativa e não substitui orientação médica ou nutricional. Antes de iniciar qualquer dieta, consulte um profissional de saúde habilitado.