Latidos em excesso: um comportamento que precisa ser compreendido, não apenas corrigido
No Brasil, especialmente em áreas urbanas como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, o latido constante dos cães é uma das principais causas de reclamações em condomínios e vizinhanças. No entanto, um cão que late muito geralmente está expressando ansiedade, frustração, tédio ou falta de estímulos adequados. Ignorar esses sinais pode agravar o problema.
Latir é uma forma natural de comunicação para os cães. Mas quando os latidos se tornam frequentes e descontrolados, eles deixam de cumprir sua função e passam a sinalizar desequilíbrios emocionais. Neste guia, você encontrará 9 técnicas práticas e positivas, adaptadas à realidade brasileira, para ajudar o seu cão a se expressar melhor e viver com mais tranquilidade.
1. Seu cão late quando a campainha toca? Treinamento com dessensibilização é a chave
Muitos cães associam o som da campainha a uma invasão de território, o que gera uma resposta instintiva de alerta ou ansiedade. Para modificar esse comportamento:
- Reproduza o som da campainha com volume baixo várias vezes ao dia
- Recompense o cão sempre que ele permanecer calmo diante do som
- Ensine comandos como “fica” ou “vai pro lugar” e associe-os a reforços positivos
Evite reagir com broncas ou gritos, pois isso pode aumentar a excitação. A repetição e a paciência são fundamentais para mudar a associação emocional do animal.
2. Latidos quando fica sozinho? Pode ser ansiedade de separação
A ansiedade de separação é comum em cães que foram superprotegidos ou que passaram muito tempo com os tutores durante períodos como a pandemia. Os sinais incluem latidos persistentes, destruição de objetos e agitação extrema.
- Simule saídas curtas e volte antes que o cão fique ansioso
- Aumente o tempo fora de casa gradualmente, sempre recompensando o comportamento calmo
- Monte um ambiente seguro com brinquedos, tapete olfativo e objetos com seu cheiro
Produtos como difusores de feromônio (cerca de R$ 120 em pet shops) ou músicas calmantes no YouTube podem auxiliar. Em casos mais graves, procure um adestrador comportamentalista.
3. Latidos durante o passeio? Atenção à socialização
Se o cão late para pessoas, carros, bicicletas ou outros cães durante o passeio, isso pode indicar medo, insegurança ou ausência de socialização. Para lidar com isso:
- Evite a aproximação com o estímulo que o incomoda e mantenha distância segura
- Use petiscos para redirecionar a atenção antes que o latido comece
- Prefira passeios em horários com menos movimento, como no início da manhã
Forçar interações ou ignorar os sinais de desconforto pode piorar o quadro. O progresso será mais consistente se for respeitado o tempo do animal.
4. Reação a sons do ambiente: TV, eletrodomésticos ou barulhos externos
Cães que nunca foram expostos a ruídos urbanos tendem a apresentar sensibilidade auditiva. Isso é mais comum em animais adotados recentemente ou que viveram em locais isolados.
- Toque sons comuns (como aspirador ou sirene) a volumes baixos enquanto o cão realiza atividades prazerosas
- Reforce com petiscos e carinho o comportamento tranquilo
- Aumente o volume aos poucos, sempre observando sinais de desconforto
A exposição controlada, associada a estímulos positivos, ajuda a construir tolerância sonora. Há playlists no Spotify e YouTube voltadas especificamente para esse fim.
5. Latidos por atenção? Saiba como evitar o reforço negativo
Se o cão percebe que latir resulta em atenção — mesmo que negativa —, ele usará esse recurso com frequência. Para reverter esse padrão:
- Ignore completamente o latido destinado a chamar atenção
- Somente ofereça carinho ou interação quando ele estiver calmo
- Estabeleça rotinas claras de alimentação, brincadeiras e descanso
Todos os moradores da casa devem seguir a mesma conduta para que o treinamento funcione. Incoerência é um dos maiores obstáculos na modificação comportamental.
6. Instinto protetor exacerbado? Como lidar com cães vigilantes
Raças como Pastor Alemão, Rottweiler ou Fila Brasileiro são naturalmente protetoras e costumam reagir a qualquer movimentação próxima à casa. Para controlar isso:
- Use cortinas, adesivos jateados ou obstáculos visuais nas janelas
- Ofereça atividades que exigem foco mental, como brinquedos recheáveis ou tapetes de farejar
- Evite reagir de forma agressiva — o tutor deve transmitir segurança e calma
O controle do ambiente visual e sonoro é tão importante quanto o treino comportamental. Diminuir estímulos reduz o estado de alerta constante.
7. Latidos por fase da vida: entenda o contexto
A idade influencia diretamente no comportamento de latir:
- Filhotes: latem por brincadeira ou por curiosidade → redirecione para brinquedos e atividades físicas
- Adultos: reagem a estímulos externos ou tédio → treino de obediência e enriquecimento ambiental
- Idosos: podem apresentar latidos relacionados a demência canina ou dor → consultar um veterinário
Um cão idoso que muda de comportamento repentinamente deve ser avaliado clinicamente. Em alguns casos, os latidos são causados por desconfortos físicos.
8. Erros comuns que agravam os latidos
Algumas atitudes bem-intencionadas podem ter efeito oposto. Evite:
- Gritar ou usar métodos aversivos (como borrifadores de água ou enforcadores)
- Recompensar sem querer o latido (por exemplo, abrir a porta quando o cão está latindo)
- Mudar constantemente de técnica — consistência é mais importante que rapidez
Latir é um comportamento que responde melhor ao reforço positivo e à repetição. Adestramento leva tempo, mas os resultados são duradouros.
9. Ferramentas e recursos que ajudam no treinamento
Alguns itens podem facilitar o processo de modificação comportamental:
- Clicker (a partir de R$ 20), petiscos naturais, guias de adestramento
- Difusores de feromônio como Adaptil® (cerca de R$ 120 a R$ 150)
- Espaço de descanso confortável e longe de estímulos visuais/sonoros
Esses recursos não substituem a presença e o vínculo com o tutor, mas ajudam a construir uma rotina mais equilibrada.
Latir não é o problema: é a forma como o cão se comunica
O objetivo não é eliminar o latido, mas ensinar o cão a usá-lo de maneira adequada e situacional. Com paciência, consistência e empatia, é possível transformar esse comportamento em algo mais saudável.
Um cão compreendido late menos — e quando late, há um motivo legítimo por trás.