Por que investir em dividendos se tornou tão atrativo em tempos de instabilidade econômica?
Com a inflação elevada, taxas de juros ainda altas e a incerteza nos mercados financeiros, muitos investidores brasileiros estão buscando alternativas mais seguras e previsíveis. As ações que pagam dividendos regulares se destacam como uma estratégia defensiva, oferecendo renda passiva e estabilidade ao longo do tempo.
Imagine o caso de Rodrigo, um servidor público de 45 anos em Belo Horizonte, que investiu em uma ação com promessa de 9% de retorno em dividendos. Poucos meses depois, a empresa teve prejuízo e suspendeu os pagamentos. O valor das ações caiu mais de 30%. Esse tipo de erro é comum entre iniciantes que olham apenas para o rendimento e ignoram a saúde financeira da empresa. A seguir, veja 7 estratégias indispensáveis para começar a investir com segurança nesse segmento.
1. Não foque apenas no rendimento: conheça o índice de payout
O rendimento por dividendo (dividend yield) é um dos indicadores mais utilizados, mas pode ser enganoso. Um alto percentual pode refletir apenas a queda no preço da ação, e não um lucro consistente.
O que importa de fato é o índice de payout, que mostra quanto do lucro líquido a empresa distribui aos acionistas. Um payout muito alto pode ser insustentável, indicando risco de corte de dividendos no futuro.
- Um payout entre 40% e 60% é considerado saudável
- Payout acima de 100% é sinal de alerta
- Empresas que mantêm dividendos mesmo com queda nos lucros merecem atenção
2. Dê preferência a empresas com histórico sólido de dividendos
Empresas que pagam dividendos de forma constante há mais de 10 anos mostram solidez, governança corporativa e bom fluxo de caixa. No Brasil, nomes como Itaú Unibanco, Taesa, BB Seguridade e Engie são reconhecidos por essa consistência.
Segundo levantamento da B3 em 2024, menos de 25% das companhias listadas mantêm pagamentos regulares há mais de 5 anos. Ter esse histórico como critério de seleção reduz muito o risco do investidor.
3. O setor importa: dividendos estáveis vêm de áreas defensivas
Nem todos os setores oferecem estabilidade. Empresas dos setores de energia, saneamento, telecomunicações e consumo básico tendem a pagar dividendos com mais regularidade. Já segmentos como construção civil, varejo ou tecnologia são mais voláteis.
- Setores defensivos: energia elétrica, saneamento, alimentos
- Setores cíclicos: bancos, commodities, logística
4. Fique atento ao calendário de dividendos: datas importam
Para ter direito ao dividendo, é preciso estar com a ação na carteira antes da data de corte (data-com). No Brasil, as ações seguem o sistema T+2 (liquidação em dois dias úteis), o que significa que o investidor precisa comprar a ação pelo menos dois dias úteis antes da data-base.
- Data-com: último dia em que o investidor pode comprar a ação para receber dividendos
- Data de pagamento: dia em que o dividendo é efetivamente depositado
- Aplicativos como o da NuInvest, Modalmais e XP mostram as datas atualizadas
5. Diversifique e rebalanceie sua carteira com frequência
Mesmo ações que pagam dividendos sofrem oscilações. Por isso, a diversificação é fundamental para proteger seu capital. Distribua seus investimentos entre diferentes setores e, se possível, inclua ETFs e BDRs.
- Misture ações brasileiras com BDRs de empresas como Coca-Cola ou Johnson & Johnson
- Considere incluir FIIs (Fundos Imobiliários), que também distribuem rendimentos mensais
- Reavalie sua carteira a cada 6 ou 12 meses
6. Rendimento muito alto pode ser uma armadilha
Se uma ação oferece mais de 10% de yield, cuidado. Ela pode estar com o preço muito depreciado por causa de problemas estruturais. Muitas vezes, empresas com rendimento elevado estão prestes a cortar dividendos.
Foi o que aconteceu com algumas construtoras em 2022: apresentavam dividend yield de dois dígitos, mas suspenderam os pagamentos no ano seguinte. Avalie o lucro líquido, a dívida e a previsibilidade de receitas antes de investir.
7. Impostos e câmbio: fatores que afetam sua rentabilidade
No Brasil, os dividendos recebidos de empresas nacionais são isentos de Imposto de Renda, mas há propostas de taxação em discussão. Já os dividendos de empresas estrangeiras (via BDRs ou corretoras internacionais) são tributáveis.
- Dividendos nacionais: isentos de IR até o momento
- Dividendos de BDRs ou ações no exterior: tributação de até 27,5% dependendo da faixa
- O câmbio influencia diretamente nos lucros ao investir fora
Utilize o Carnê-Leão e plataformas como Kinvo ou Gorila para acompanhar seus rendimentos e obrigações fiscais com clareza.
8. ETFs de dividendos: boa porta de entrada para iniciantes
Para quem está começando, os ETFs de dividendos oferecem diversificação automática, baixo custo e praticidade. Entre os mais populares no Brasil estão o It Now IDIV, BBSD11 e o DIVO11.
Esses ETFs seguem carteiras baseadas em critérios objetivos e fazem o rebalanceamento periodicamente, permitindo ao investidor obter renda sem precisar analisar cada ação individualmente.
9. Reinvista os dividendos para multiplicar seu patrimônio
Em vez de gastar os dividendos recebidos, reinvesti-los aumenta exponencialmente o potencial de crescimento do capital — é o famoso efeito dos juros compostos. Essa estratégia pode ser automatizada em algumas corretoras, como Rico ou XP.
Por exemplo, com um rendimento de 4% ao ano, reinvestido por 20 anos, seu capital inicial pode mais que dobrar. A disciplina de reinvestir pode fazer mais diferença do que o valor inicial investido.
10. Defina seu objetivo antes de investir em dividendos
Ações com dividendos são ideais para quem busca complementar a aposentadoria, gerar renda mensal ou proteger o poder de compra. Mas é preciso clareza: qual é sua meta? Renda mensal, acúmulo de patrimônio ou independência financeira?
Especialistas sugerem alocar entre 20% a 30% da carteira em ações ou ETFs de dividendos, equilibrando com ativos de maior crescimento ou menor risco, conforme seu perfil.
Aviso legal
Este conteúdo tem caráter meramente informativo e não constitui recomendação de investimento, tributária ou legal. Todas as decisões devem ser tomadas de forma consciente e com base no seu perfil de risco. Procure um assessor financeiro certificado para orientações específicas.