9 passos eficazes para superar traumas e fazer as pazes com o passado

Por que fazer as pazes com o passado é o primeiro passo para a cura

O trauma pode pertencer ao passado, mas o sistema nervoso o armazena como se ainda estivesse acontecendo. Evitar o assunto pode aliviar momentaneamente, mas reforça a fragmentação das memórias, emoções e sensações corporais, tornando os sintomas mais persistentes. A verdadeira recuperação não consiste em “apagar” o passado, mas em reconectá-lo de forma segura e integrá-lo ao seu eu atual. Esse processo, conhecido como fazer as pazes com o passado, está menos ligado à culpa e mais à reconstrução de significado. Ele se sustenta em três pilares: clareza dos fatos, aceitação emocional e estabilidade física. Os passos a seguir foram elaborados para guiar esse caminho de forma estruturada.

Criar uma base de segurança: a cura começa pelo corpo

Trabalhar um trauma sem sensação de segurança eleva o risco de revitimização. Comece ajustando a higiene do sono, mantendo uma alimentação equilibrada e praticando atividades aeróbicas leves, como caminhada rápida, para estabilizar o sistema nervoso autônomo. Respire prolongando a expiração em relação à inspiração para estimular o nervo vago, repetindo várias vezes ao dia. Ancore sua atenção no presente percebendo a pressão dos pés no chão, a tensão nos ombros ou as cores ao seu redor. Reduza notificações no celular e evite telas à noite. Combine com uma pessoa de confiança um protocolo de “sinal–contato–apoio” para fortalecer a base de segurança.

O que fazer diante de um flashback

O flashback ocorre quando o cérebro não diferencia o “antes” do “agora”. A prioridade não é interpretar o evento, mas estabilizar o corpo. Movimentos oculares lentos da esquerda para a direita ou lavar as mãos em água fria ajudam a reduzir o nível de alerta. O método de ancoragem 5-4-3-2-1 traz a atenção de volta ao presente. Tenha previamente definido um local seguro, uma pessoa de apoio ou uma frase calmante. Se forem frequentes, registre horário, situação e reações físicas para identificar padrões.

5 passos rápidos para estabilização imediata

  1. Declarar uma pausa: dizer em voz alta “Estou seguro(a) agora”.
  2. Reajustar a respiração: inspirar por 4 segundos, expirar por 6 segundos, repetindo 6 vezes.
  3. Ancoragem sensorial: identificar 5 coisas que vê, 4 que toca e 3 que ouve.
  4. Movimento ocular: deslocar o olhar da esquerda para a direita 20–30 vezes.
  5. Frase de encerramento: “Esse evento acabou. Estou aqui agora”.

Identificar e lidar com gatilhos de forma equilibrada

Um gatilho não é perigo real, mas um estímulo ligado ao passado. Evitá-lo completamente reduz a qualidade de vida, enquanto enfrentá-lo de forma brusca pode retraumatizar. Trabalhe dentro da sua “janela de tolerância”, começando por situações que causem apenas 10–20% de desconforto. Liste cenas, lugares, sons e cheiros por ordem de dificuldade, incluindo exercícios de respiração ou autorregulação antes e depois da exposição. O objetivo não é “aguentar”, mas criar aprendizado seguro. Exemplo: uma pessoa em São Paulo que sentia ansiedade com o som do metrô começou por viagens curtas em horários de menor movimento, ampliando gradualmente.

Nomear emoções e praticar autocompaixão

A culpa e a vergonha após um trauma muitas vezes são subprodutos de estratégias de sobrevivência. Nomear emoções reduz a reatividade da amígdala e melhora a regulação pelo córtex pré-frontal. Troque “Sou fraco(a)” por “Estou me sentindo ameaçado(a) agora”, separando fatos, emoções e necessidades. Imagine o que diria a alguém que viveu a mesma situação e crie frases de autocompaixão. Reduzir a autocrítica diminui a tendência de evitar situações. O ato de nomear emoções serve como ponte entre terapia e autoexposição.

Reescrever a narrativa do trauma

O objetivo não é apagar a memória, mas restaurar seu contexto — tempo, lugar, pessoas e emoções. Com a base de segurança estabelecida, monte uma linha do tempo antes, durante e depois do evento. Mantenha a “consciência dupla” entre o eu passado e o presente, reduzindo o ritmo ao abordar detalhes mais intensos. Com a repetição, a intensidade emocional diminui e o significado se transforma. Use a exposição narrativa por meio de gravação ou escrita, intercalando atividades focadas no presente para evitar sobrecarga.

Passos para reconstrução da narrativa

  1. Divida o evento em 5 a 7 cenas principais.
  2. Registre fatos, emoções e sensações físicas de cada cena.
  3. Compare crenças passadas com as atuais.
  4. Comece pela cena menos perturbadora.
  5. Grave e ouça, observando mudanças emocionais.
  6. Finalize com um exercício de ancoragem (respiração, alongamento).

Estabelecer limites nas relações: quebrar ciclos de repetição

O trauma muitas vezes se repete nos relacionamentos. Definir limites não significa cortar laços, mas esclarecer papéis e responsabilidades. Observe reações automáticas como minimizar situações com humor e prepare respostas alternativas. Seja objetivo(a) em pedidos, recusas e negociações. Ao notar sinais de alerta, registre por mensagem ou e-mail em vez de discutir pessoalmente. Aplique diferentes níveis de definição de limites conforme o contexto — família, trabalho, ambiente online.

Frases para estabelecer limites

  • “Esse assunto me incomoda agora. Vamos mudar de tema.”
  • “Esse pedido ultrapassa meus limites. Vamos redefinir o que é possível.”
  • “O tom que você está usando me soa ameaçador. Se ajustá-lo, podemos continuar.”

Quando buscar ajuda profissional e quais abordagens funcionam

O principal critério é a funcionalidade no dia a dia. Insônia grave, impulsos de autolesão, crises de pânico com desmaios ou incapacidade de manter vínculos ou trabalhar exigem atendimento profissional imediato. EMDR ajuda a integrar memórias sensoriais e emocionais, CPT corrige crenças distorcidas e TF-CBT é eficaz para crianças e adolescentes com participação dos cuidadores. Medicamentos podem apoiar no tratamento de insônia, depressão ou ansiedade, mas devem ser prescritos por médico. Entre sessões, pratique técnicas de estabilização até se tornarem automáticas.

Redefinir sentido, valores e ritmo de vida após a recuperação

A recuperação não termina com a redução dos sintomas. Conecte seus valores a ações semanais para viver ativamente e não apenas “sobreviver”. Reequilibre trabalho, relações e lazer, definindo metas pequenas e alcançáveis. Atividades físicas aumentam a sensação de segurança e eficácia pessoal. Veja recaídas como parte do aprendizado, não como fracasso. Programe revisões periódicas para avaliar o progresso na reconexão.

Ferramentas digitais e recursos locais

No Brasil, o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio gratuito pelo telefone 188, e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) fornecem atendimento especializado. Use aplicativos de notas para registrar o humor e cronômetros para exercícios de respiração ou mindfulness. Grupos de apoio online podem ser úteis, desde que haja regras para evitar a sobrecarga emocional. No trabalho ou na escola, solicite formalmente adaptações razoáveis. Em emergências, ligue para o SAMU (192) ou para os Bombeiros (193). Saber acionar recursos é, por si só, uma habilidade de recuperação.

Estratégias para manter a paz com o passado de forma duradoura

Fazer as pazes com o passado é uma estratégia contínua. Realize três sessões de estabilização de 10 minutos por semana, atualize sua lista de gatilhos mensalmente e revise objetivos e valores a cada trimestre. Caso haja recaídas, registre causa, padrão e resposta, e siga para o próximo passo. O mais importante é a constância, não a perfeição. Trabalhe com profissionais para ajustar o equilíbrio entre segurança, exposição e significado. Esse hábito protege seu eu atual e honra seu eu do passado.

Aviso: Este artigo é apenas informativo e não substitui diagnóstico ou tratamento médico profissional. Em caso de emergência, procure imediatamente os serviços de urgência ou um profissional qualificado.